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O MERCADO DE PEIXE
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IN: "O DESFORÇO", 15 Julho 1897 |
O MERCADO DE PEIXE
Os Melhoramentos locaes
«Pretende-se que o largo da
Feira-Velha, a cuja regularização se anda procedendo por obra e graça de uma
boa dose de patriotismo de certa pessoa, seja um dos mais bonitos largos da
villa.
Afigura-se-nos, porem, que o
mercado de peixe que se projecta n’elle construir, á custa também de quem tão
generosa e patrioticamente se tem empenhado pelas referidas obras, não pode nem
deve contribuir muito para a esthetica do mesmo largo.
Devemos ainda notar que
n’esses mercados há sempre um mau cheiro que a mais cuidada limpeza não pode
evitar nem atenuar, e também não se deve esquecer, o que é, na realidade, muito
para ponderar o desbragamento de língua peculiar nos nossos – como em quasi
todos – os negociantes de pescado.
Ainda pelo lado do
aformoseamento do largo nos parece e é certo que as linhas architetonicas do
mercado não serão de molde a despertar a atenção pela sua beleza, e que, pelo
contrário, ellas só poderão concorrer para o desfeiamento do largo.
Sem duvida, pois, que todos
os apontados inconvenientes não são compensados com as commodidades que o
publico pode auferir.
O mercado exclusivo de
peixe, não sendo essencialmente necessário n’uma terra como esta, deveria, a
haver a generosa vontade de o construir sem encargos para o município, ser
edificado n’um ponto menos central da villa.
O cheiro activo que d’delles
emana, a linguagem pouco honesta própria d’estes mercados e a que se não poderá
pôr cobro por falta de policia, constituem indubitavelmente motivos mais que
ponderosos para o retirar d’um ponto central da villa e ao qual se pretende dar
foros de beleza.
Tendo-se este jornal em
números sucessivos ocupado de este assumpto não foi ele tratado ainda sob os
aspectos que hoje apresentamos, afiguramdo-se-nos que eles deverão sêr reflectidamente
ponderados por quem compete».
S. Lopes
IN: jornal “O Povo de Fafe”,
4 de Setembro de 1912
A Feira-Velha (1931)
«A Feira-Velha era um
espaçoso largo ocupado de espesso carvalhal, im grande largo publico onde se
verificava semanalmente a feira dos suínos e onde, ao meio, havia umas fontes e
um tanque, com uma poça de consortes ao fundo.
Ao Sul, em propriedade
particular, havia um soutal e ao Norte uns casebres de telha e colmo, onde
habitava gente humilde.
Era um ponto sombrio, sem
higiene, mas abrigado, cheio de pedregulho, onde a vassoira municipal nunca
entrou mas sim a dos pobres para juntar a folha do arvoredo.
Era uma artéria da vila que
necessitava aformoseamento.
E tanto necessitava dele,
que as câmaras, reconhecendo essa necessidade, pouco a pouco, foram
aformoseando esse local, onde hoje se realisa a feira do gado bovino, continuando
a ser um espaçoso largo.
Tudo o que era velho
desapareceu: as edificações modernas fizeram-se com elegância, os muros
marginais são bem apresentados.
As fontes, o tanque e a
poça, existentes num vão, desapareceram também.
A pôça abeiraram-na dos
campos, para Norte, continuando a ser dos mesmos consortes e para ela brota a
antiga fonte de Sá, que dantes era de bôa e agora é de agua má.
A nascente que fica a Este,
escorre pelos canos que atravessam o largo, para os ir limpando.
De maneira que na antiga Feira-Velha,
que actualmente se denomina Praça do Brazil, e que é assás alegre, existem a
Praça do Peixe, um hotel, casas comerciais e está ali instalado o Orfeão de
Fafe; no largo, a Poente, fica a linha férrea e existem árvores viçosas por
todo ele: um fontanário e um mictório.
Este, se a Praça, que tem
condições para asseio, estivesse limpa, não seria ali de mais. Assim… A Praça
do Brazil, cujo nome reclama uma coisa bem posta, parece, com ervanço e
pedregulho, ter voltado ao primitivo estado da Feira-Velha!
Depois, tem ainda lá ao
fundo aquela selva da C. do C. de Ferro a deslustra-la.
A Companhia oferecia á
Camara, com a a obrigação de fazer uma vedação com muro, aquele terreno que lhe
pertence. A Camara não o fez e a Companhia vedou indecentemente aquilo. Tinha
de ser, para, pelo menos ás quartas
feiras, dia de feira, não se darem desastres com o gado que para lá corresse.
Querem dar á Praça do Brazil
um impulso movimentoso, de vida, um tom elegante, digno do nome que ela tem,
tornando-a mais higiénica e mais higiénico tudo, tudo?
Construam lá, ao centro, uma
praça que comporte fructas, hortaliças, etc., etc.
Façam desaparecer a selva e
construir o muro e ela ficará então uma Praça do Brazil! Distinta, como se
deseja.»
IN:
jornal “O Desforço”, 5 de Novembro de 1931
Pavimentação da Feira Velha
e Lugar de Sá (1982)
«Pelo
Presidente da Câmara foi mandada executar, por administração directa, a obra de
pavimentação do largo da Feira Velha, hoje denominado Praça Mártires do
Fascismo, local onde se encontra instalada, provisoriamente, a Central de
Camionagem.
Esta
obra, de inegável importância para o público que tem de tomar os transportes
públicos no local, justifica-se plenamente, dado o estado deplorável em que se
encontra o piso nos meses de inverno, cheio e poças de água e no Verão, batido
por desagradáveis nuvens de pó.
Esta
decisão, que foi ratificada pela Câmara, em 6 de Janeiro último, compreende
ainda a pavimentação da Rua de Sá e a concordância com Rua Trindade Coelho,
cujos trabalhos se encontram, neste momento, já em execução».
IN:
“Boletim Municipal”, Câmara Municipal de Fafe, Abril de 1982
BARBEARIA
CUNHA
Duas
Gerações a cortar cabelo
há cerca de oito décadas
A ntónio Augusto
Oliveira Cunha deu continuidade ao negócio que seu pai, Júlio da Cunha, fundou
há cerca de oitenta anos. Com 65 anos de idade, António tem muitas recordações
de um longo passado, em grande parte, ao lado do seu progenitor e “patrão”.
Júlio da Cunha nasceu
em 1915 na freguesia de S. Gens no seio de uma família humilde que vendia,
porta a porta e em feiras, “trigo de ovelhinha” e rebuçados de mel. O jovem
Júlio renunciou àquele modo de vida e ainda muito novo, nas horas vagas,
aprendeu a profissão de barbeiro em várias casas da antiga Vila, entre as quais
a velha e muito conhecida barbearia “Trancadas”.
Júlio da Cunha teve boa escola e ambição, com apenas “19 ou 20 anos de idade” abriu a sua própria barbearia nos baixos da “Casinhola Alegre”, na Feira-Velha, que na época era um terreiro salpicado de árvores, sobretudo carvalhos. No centro tinha um “mijadouro” (mictório) em “folheta”. Era neste antigo largo que às quartas-feiras se realizava a feira do gado. Mais tarde, nos anos 40 do século XX, nas traseiras da “perecida” escola primária, fazia-se a feira dos porcos. “Naquele tempo, a Feira-Velha era bonita e animada”, sublinhou António Cunha, que ainda se lembra dos muitos negócios que aconteciam na barbearia e eram depois “selados” com umas canecas de vinho bebidas no “Zéca Ferrador”, uma taberna localizada no outro lado do largo, onde também se “calçavam” animais.
“Muita da clientela
do meu pai era de fora da Vila, vinham de Travassós e outras freguesias… alguns
continuam a frequentar a barbearia”, informou António Cunha que durante várias
décadas trabalhou da cadeira ao lado do seu pai que cortou cabelo e barba até
aos 84 anos de idade.
“Um dia disse-lhe que
ia morrer encostado há cadeira. O meu pai zangou-se, colocou o seu chapéu e
saiu. Há noite comunicou-me que não iria voltar a trabalhar”, confessou o
barbeiro António que viu partir o seu progenitor quatro anos depois, com 88
anos de idade.
Jesus Martinho
Entramos na Praça Mártires
do Fascismo (Feira-Velha), deparamo-nos com um pequeno palacete de Arte Nova
construído em 1914, designado por “Casinhola Alegre”, um dos mais castiços
edifícios da cidade. Apesar da ausência de publicidade exterior, uma porta
semiaberta desperta-nos a curiosidade, aproximamo-nos e identificamos uma
barbearia. Entramos naquele pequeno espaço bem iluminado, um velho rádio debita
música de outros tempos, vários espelhos multiplicam as nossas imagens. As
paredes alvas mostram uma decoração simples: Bento XVI enverga uma camisola do
Benfica, outro quadro antigo ostenta a “Justiça de Fafe”, o indispensável
calendário de parede para estar sempre em dia e ao centro, em lugar destacado,
uma fotografia do fundador da barbearia, Júlio da Cunha.
O estabelecimento foi
modernizado ao longo do tempo, contudo, é fácil identificar ali a presença de
um tempo mais recuado, denunciado pela existência de uma antiga cadeira de
barbeiro em ferro forjado com assento e costas em madeira decorada com efígie
já quase apagada e aplicações de mármore branco nos braços. É, certamente, uma
das cadeiras da fundação da barbearia, fabricada na “M. Bartholo”, uma empresa
do Porto que produziu cadeiras de barbeiro entre finais do século XIX e
princípios de século XX.
há cerca de oito décadas
Júlio da Cunha teve boa escola e ambição, com apenas “19 ou 20 anos de idade” abriu a sua própria barbearia nos baixos da “Casinhola Alegre”, na Feira-Velha, que na época era um terreiro salpicado de árvores, sobretudo carvalhos. No centro tinha um “mijadouro” (mictório) em “folheta”. Era neste antigo largo que às quartas-feiras se realizava a feira do gado. Mais tarde, nos anos 40 do século XX, nas traseiras da “perecida” escola primária, fazia-se a feira dos porcos. “Naquele tempo, a Feira-Velha era bonita e animada”, sublinhou António Cunha, que ainda se lembra dos muitos negócios que aconteciam na barbearia e eram depois “selados” com umas canecas de vinho bebidas no “Zéca Ferrador”, uma taberna localizada no outro lado do largo, onde também se “calçavam” animais.
António Cunha
trabalha só, há 8 anos. Não se queixa do negócio e afirma que mantém uma faixa
de clientes mais “tradicionais” que “preferem as barbearias aos salões de
cabeleireiro, onde se lavam, pintam e tratam cabelos… os meus fregueses não
gostam disso”, desabafou o barbeiro.
A barbearia Cunha,
não sendo a mais antiga da cidade é seguramente uma das mais tradicionais. Um
negócio que foi familiar com um percurso de duas gerações, ainda longe de
alcançar o seu fim. António Cunha gosta do que faz e enquanto se sentir capaz
não abandona a sua barbearia que durante muitas décadas foi o seu sustento, honrando
agora a memória do seu pai que foi barbeiro durante mais de sessenta anos.Jesus Martinho
ESCOLA PRIMÁRIA
Reprodução do Almanaque Ilustrado de Fafe - 1941
Escola da Feira Velha foi inaugurada em 1940
Em 1936 o Ministério
das Obras Públicas, através da Direcção Geral dos Monumentos Nacionais,
atribuiu uma verba de vinte mil escudos (20.000$00) para a construção de um
edifício escolar “Tipo Alto Minho” com três salas. A Câmara Municipal da época,
liderada pelo médico fafense António Martins de Freitas, deliberou implantar a
nova escola na então Praça da República, actual Praça Mártires do Fascismo
(Feira Velha).
A tutela exigia um
mínimo de 1250 m2, incluindo o logradouro nas traseiras. Relativamente à vedação
do edifício não houve qualquer comparticipação do Estado. Ela foi concretizada
anos depois a expensas da Câmara Municipal.
Escolhido o local,
“amplo e arborizado”, a obra foi entregue à Empresa Industrial de Fafe, que
tinha também secções de marcenaria, carpintaria e serralharia.
A inauguração da
Escola da Feira Velha, assim como de outros equipamentos subsidiados pelo
Estado Novo, aconteceu em 1940, em plenas comemorações centenárias, integradas
nas “Festas da Vila de Fafe”.
Foi no dia 15 de Julho daquele ano que uma multidão assistiu à inauguração do melhoramento. O jornal “O Desforço” descreve assim o “grande acontecimento”
“ …Depois o edifício
escolar da Praça da Republica, onde as crianças, num como que Orfeão, entoam
com vozes sãs e muito bem, sob a regência de José Maciel, os hinos da Mocidade,
da Restauração, e Nacional. O Snr. Sub-Secretário apreciou e teve a oferta de
um lindo ramo de cravos, que uma criança lhe entregou, agradecendo-lhe e
felicitando no final o snr. José Maciel
pela boa regência. Os miúdos, que tão bem se houviram, teem aplausos.
Organiza-se novamente
o cortejo em que tomam parte milhares de crianças que empunham bandeiras da
Fundação e da Restauração, o que lhe dá uma graça especial…”
A Escola da Feira Velha, uma das mais emblemáticas da Vila promovida a cidade, que durante sessenta e oito anos assistiu à passagem de milhares de crianças em início de aprendizagem, sucumbiu em Agosto de 2008. Foi mandado demolir, pela Câmara Municipal, um belo edifício Histórico que deveria ter sido conservado e valorizado.
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